sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

O CASO DORA

1) CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS:

* EVENTOS ENVOLVENDO FREUD, ANTES DO CASO DORA:
* Freud estudava hipnotismo,  sugestão no Tratamento Psíquico (ou Mental);
* Freud estudava a interpretação dos Sonhos, publicada em 1900:
* Freud desejava curar as psiconeuroses no  método psicoterapêutico, como conhecimento imprescindível para o psicanalista;
* Freud traduzia a linguagem dos sonhos em formas de expressão da própria linguagem do pensamento, compreensíveis sem maior auxílio.
* Os sonhos em geral podem ser interpretados, sendo o modo indireto de representação no psíquico;
* Substituídos por pensamentos impecavelmente construídos;
* Passíveis de serem inseridos num ponto reconhecível;
* Pacientes contavam sonhos;
* Trama de relações oníricas entre sintoma e idéia patogênica.
* O sonho é um desvio do material psíquico consciente em oposição do conteúdo bloqueado, recalcado, patogênico.
* Freud estudava como a ansiedade se manifestava, como libido transformada  e os seus sintomas — a dispnéia e as palpitações — como elementos do ato da cópula, os quais, na ausência dos meios normais de descarga da excitação, surgiam de forma isolada e exagerada, em neurose de angústia.
* Freud queria estudar o desenvolvimento psicológico das mulheres,  queixou-se da obscuridade que envolvia a vida sexual das mulheres. Freud dizia que a vida sexual das mulheres se encontrava mergulhada em impenetrável obscuridade, que o levou a presumir que a psicologia das mulheres podia ser tomada simplesmente como análoga à dos homens, num paralelo completo entre os dois sexos. Freud observou que os complicados processos que acompanham e seguem a dissolução do complexo de Édipo são análogos entre os sexos. Freud estudava sobre os dois laços psicologicamente distintos de um menino: uma catexia de objeto sexual e direta para com a mãe e uma identificação com o pai que o toma como modelo. A identificação pode significar um desejo hostil, por parte da menina, de tomar o lugar da mãe, e o sintoma expressa seu amor objetal pelo pai, ocasionando realização, sob a influência do sentimento de culpa, de seu desejo de assumir o lugar da mãe - mecanismo completo da estrutura de um sintoma histérico.
* Freud estudava sobre o  conceito de regressão, como movimento da excitação proveniente de uma idéia ou imagem mnêmica desde a percepção (ou alucinação) como  “topográfico”, “temporal” e “formal”, quanto à trajetória dos processos psíquicos entre a extremidade perceptiva e a extremidade motora do aparelho psíquico. Os dois tipos de mecanismos diferentes de regressão “temporal”, pela possibilidade de retorno tanto a um objetivo sexual anterior (particularmente característico da histeria) como a um objetosexual anterior (associado à neurose obsessiva). No primeiro tipo de regressão (temporal), afetando o desenvolvimento da libido, na hipótese dos pontos de fixação e das organizações pré-genitais, a frustração causa regressão da libido para algum ponto de fixação anterior, cujo processo semelhante também deveria estar em ação nos distúrbios mais graves, na esquizofrenia e na paranóia. No segundo tipo de regressão (temporal), afetando o desenvolvimento do ego, envolvendo a inibição, sintoma e angústia, sejam técnicas do ego nos conflitos que podem levar a uma neurose, como mecanismos de defesa, cuja manifestação clínica da regressão seria a transferência.Na terceira espécie de regressão (formal), os métodos primitivos de expressão e representação tomam o lugar dos métodos habituais, como na relação com os sonhos, o simbolismo e a lingüística.Aparece a regressão topográfica, que é mais perceptiva. As três espécies de regressão são uma só e ocorrem, em geral, simultaneamente; a que é mais antiga no tempo, é a mais primitiva na forma, e na topografia psíquica situa-se mais próxima da extremidade perceptual”.

* EVENTOS ENVOLVENDO FREUD, DURANTE O CASO DORA:
* Freud estudava sobre os estigmas de sensibilidade cutânea, limitação do campo visual ou coisas semelhantes, como estranhos e assombrosos fenômenos da histeria, moléstia ainda enigmática. O que lhe faltava era  justamente a elucidação dos casos mais comuns e de seus sintomas mais freqüentes e típicos, afirmando que a dispnéia e as palpitações que ocorrem na histeria e na neurose da angústia são apenas fragmentos soltos do ato de copulação.
* Freud estudou sobre as afirmações de Darwin que dizia que a expressão das emoções  consistia em ações que originalmente possuíam um significado e serviam a uma finalidade e que todo afeto era apenas uma reminiscência de um fato, ou a  repetição de alguma experiência significativa específica, como revivescências de fatos da infância, gerando um ataque histérico que poderia ser originado de um afeto individual recém-construído, ou de um afeto normal como herança infantil.
* Freud dizia que na teoria dos afetos, a ansiedade, estava relacionada com o ato de nascer, sendo a fonte e primeira experiência de ansiedade, envolvendo abertura e encerramento no tratamento catártico.

* EVENTOS ENVOLVENDO FREUD, DEPOIS DO CASO DORA:
* A história do tratamento da jovem histérica destina-se a mostrar de que forma a interpretação dos sonhos se insere no trabalho de análise.
* Oportunidade de evitar mal-entendidos sobre as concepções dos processos psíquicos e condições orgânicas da histeria.
* Denotar a importância das severas exigências de dedicação e aprofundamento pelo médico/investigador, no estudo da histeria;
* Freud começou agora a considerar mais profundamente toda a questão da sexualidade nas mulheres; suas investigações deveriam posteriormente conduzir aos artigos sobre os efeitos da distinção anatômica entre os sexos, sobre a sexualidade feminina e sobre o homossexualismo;
* Freud começou  a estudar sobre análise de fobias, neurose obsessiva, paranóia, neurose infantil, o caso da paranóia feminina ‘que ia de encontro à teoria psicanalítica’ cuja essência residia na relação da paciente com sua mãe, o estudo das fantasias de escapamento, que se relacionava quase inteiramente com o desenvolvimento sexual infantil das meninas,  a Dissolução do Complexo de Édipo e sobre a sexualidade feminina.

2) DADOS PESSOAIS SOBRE A PACIENTE DORA:
O quadro clinico é a historia de uma jovem histérica, de apenas 18 anos que Freud atendeu por apenas 3 meses conhecida pelo pseudônimo de Dora entre outubro e dezembro de 1900. No inicio de 1901 ele escreveu sobre o caso, mais só foi publicado em 1905, com o titulo “Fragmento da analise de um caso de histeria”.

CASO: SRTA. DORA
A) NOME E IDADE:
Srta. Rosa W.”., 18 anos;

OBSERVAÇÃO: Pseudônimo “Dora”, nome escolhido por Freud, como o nome da babá (da casa) da sua irmã Rosa, para não dar problemas; também pelo fato de que Freud associou solidamente o conteúdo na história de sua paciente, bem como no curso do tratamento, foi uma pessoa empregada numa casa alheia, uma governanta, quem exerceu uma influência decisiva. Freud mudou o nome para “Erna” durante uma conferência para não afetar uma colega chamada Dora.

B)  HISTÓRICO FAMILIAR:
O círculo familiar: pai, a mãe, ela e um irmão um ano e meio mais velho;
O Pai de Dora:Pessoa dominante, inteligente; 50 anos; de atividade e talento incomuns, um grande industrial com situação econômica muito cômoda, mas tuberculoso, gerando mudança de domicílio por 10 anos, ficando com a visão permanentemente reduzida, depois, crise confusional, seguida de sintomas de paralisia e ligeiras perturbações psíquicas, com paralisia tabética, num diagnóstico de afecção vascular difusa, com a presença de infecção específica antes do casamento, sendo tratado com antiluético enérgico.
A mãe de Dora:Freud não a conheceu, mas descreveu-a conforme relatos do pai de Dora como sendo uma mulher inculta, fútil, distanciada do marido, concentrada somente em assuntos domésticos, apresentando quadro de “psicose da dona-de-casa”, não compreendia nem se interessava pelos filhos, interessada em obsessões pela limpeza, como “neurose obsessiva.
O irmão de Dora:Era o modelo que ela ambicionara seguir, mas as relações entre ambos se haviam tornado mais distantes por causa das discussões da família, sempre  apoiando a mãe,primeiro a apresentar a doença histérica de Dora, de forma branda;
Outros parentes de Dora, relatados:Uma tia paterna de Dora, mais velha, amada por ela, possuía uma forma grave depsiconeurose sem nenhum sintoma histérico, com vida acabrunhada, casamento infeliz, morreu. Um tio paterno de Dora, mais velho, era um solteirão hipocondríaco.

C) HISTÓRICO CRONOLÓGICO DE DORA, CONTENDO INDÍCIOS DE PROBLEMAS CRÔNICOS, ANTERIORES AO TRATAMENTO, COM FREUD:
1882 - Nascimento de Dora
* A menina passou pelas doenças infecciosas habituaisda infância sem sofrer qualquer dano permanente;
* Aos 4 ou 5 anos, Dora era “chupadora de dedo”, aonde seu pai a fez abandonar esse hábito; chupava o polegar esquerdo, enquanto com a mão direita puxava o lóbulo da orelha do irmão;
1888 -  Pai tuberculoso. Família muda-se para B
* Desde os 6 anos de idade, vivenciou as doenças crônicas do Pai;
1889 - Enurese noturna.
Aos 7ou 8 anos, ela ainda molhava a cama, urinando à noite (enurese);
1890 - Dispnéia.
* Aos 8 anos começou a apresentar sintomas neuróticos, com dispnéia crônica, acessos ocasionais muito mais agudos, numa pequena excursão pelas montanhas, sendo por isso atribuído ao esforço excessivo, tratado por 6 meses, com  repouso e aos cuidados, o estado cedeu gradativamente, foi diagnosticada como possuidora de distúrbio puramente nervoso, sem causa orgânica para a dispnéia.
1892 - Deslocamento da retina do pai.
* Aos 10 anos, o pai foi tratado num quarto escuro por causa de descolamento de retina;
1894 - Crise confusional do pai. Visita dele a Freud. Enxaqueca e tosse nervosa
Por volta dos 12 anos, começou a sofrer de dores de cabeça unilaterais do tipo de enxaquecas, bem como de acessos de tosse nervosa, começado como gripe comum, continuavam (a princípio os dois sintomas apareciam juntos, mas a enxaqueca tornou-se mais rara);
1896 - Cena do beijo.
* Aos 14 anossegundo relatos a Freud, sendo uma mocinha virgem, fora beijada pela primeira vez, agarrada pelo Sr.K, sendo despertada a uma nítida sensação de excitação sexual.
1898 -  (Princípios do verão:) Primeira visita de Dora a Freud. (Fins de junho:) Cena junto ao lago. (Inverno:) Morte da tia. Dora em Viena.
* Aos 16 anos, a enxaqueca desapareceu completamente, mas sofria de tosse e rouquidão, quando após a morte da amada tia, adoeceu com um quadro febril então diagnosticado como apendicite e também constipação intestinal. Freud a viu, no início do Verão e propôs tratamento psíquico, o que foi desconsiderado pela família;
1899 - (Março:) Apendicite. (Outono:) A família deixa B e se muda para a cidade onde ficava a fábrica.
* Aos 18 anos, tossia numa duração de 3a 5 semanas, e até por vários meses; * Tinha perda completa da voz.
* Diagnosticada por outros médicos, há muito tempo, como nervosismofoi tratada com o uso de hidroterapia, eletro-choque, sem nenhum resultado;
1900 - A família se muda para Viena. Ameaça de suicídio.
* Após uma ligeira troca de palavras entre ele e a filha, estateve um primeiro ataque de perda da consciência — acontecimento também posteriormente encoberto por uma amnésia;
* Mesmo oposta aos esforços, procura, orientação e assistência médica e resistente a consultas médicas, foi a Freud,movida pela autoridade do pai.
1900 - (Outubro a dezembro:) Tratamento com Freud.
1901 - (Janeiro:) Redação do caso clínico.
1902 - (Abril:) Última visita de Dora a Freud.
1905 - Publicação do caso clínico.

D) TRAÇOS DE PERSONALIDADE E MODO DE VIDA DE DORA ATÉ O TRATAMENTO COM FREUD:
 * Jovem madura, de juízo muito independente;
* Senso crítico precocemente despertado
* Moça em flor, com feições inteligentes e agradáveis;
* Mudança de comportamento, fonte de sérias preocupações para seus pais, caracterizada pelo desânimo, alteração de caráter, insatisfeita consigo mesma e com a família, inamistosa em relação ao pai, se dava muito mal com a mãe, que estava determinada a fazê-la participar das tarefas domésticas;
* Evitava contatos sociais, tendo fadiga e falta de concentração;
* Se ocupava em ouvir conferências para mulheres e se dedicava a estudos mais sérios;
* Tendência suicida, tendo escrito uma carta em que ela se despedia deles porque não podia mais suportar a vida;
Para Freud, Dora era cega num sentido, tinha a percepção bem aguçada no outro.

3) FASES DO TRATAMENTO COM FREUD:
A) ENCONTRO COM FREUD: (QUEIXA PRINCIPAL DO TRATAMENTO):
* Aos 18 anos, tossia numa duração de 3a 5 semanas, e até por vários meses; tinha perda completa da voz; foi diagnosticada por outros médicos, há muito tempo, como nervosismofoi tratada com o uso de hidroterapia, eletro-choque, sem nenhum resultado;

* Após uma ligeira troca de palavras entre ele e a filha, estateve um primeiro ataque de perda da consciência — acontecimento também posteriormente encoberto por uma amnésia; Mesmo oposta aos esforços, procura, orientação e assistência médica e resistente a consultas médicas, foi a Freud,movida pela autoridade do pai.

B) GRAU DE MATURAÇÃO SEXUAL DE DORA (INDÍCIOS PERCEPTIVOS):
* Relatados observados sobre a Relação Parental, antes do Tratamento:
Muito carinhosamente apegada ao pai, se escandalizava com atos e peculiaridades dele;  era terna e temerosa por causa das várias graves doenças do pai;
* Inamistosa com a mãe, há vários anos, a menosprezava e a criticava duramente, se subtraindo de sua influência.
Havia rivalidade familiar e atração sexual aproximando pai e filha, de um lado, e mãe e filho, de outro.

* Relatos descritos pelo pai de Dora a Freud, sobre o caso do Sr. K:
* A Sra.K cuidava do pai de Dora e ele era muito grato por isso;
* O Sr. K. era extremamente amável com Dora, levando-a a passear com ele;
Dava-lhe pequenos presentes;
Dora tratava com terno cuidado os filhinhos dos K., de modo quase maternal.
Contou à mãe, para que esta transmitisse ao pai, que o Sr. K. tivera a audácia de lhe fazer uma proposta amorosa,durante uma caminhada depois de um passeio pelo lago.
Dora só mostrava interesse pelos assuntos sexuais, liaFisiologia do Amor, de Mantegazza, e livros semelhantes.
* Dora fora acusada pelo Sr. K de estar excitada por tais leituras, e que ela teria “imaginado” toda a cena que descrevera.
Queria que o pai rompesse as relações com o Sr. K e com a Sra. K., a quem antes positivamente venerava;
Dora tinha obstinação e inabalável ódio pelos K, como que a situação da proposta amorosa era uma afronta à sua honra, por isso, tinha abatimento, irritabilidade e idéias suicidas;
* O pai de Dora acreditava que a história de Dora sobre a impertinência imoral do homem era uma fantasia;
* Ele não queria magoar a Sra. K por causa de honrosa amizade e que não havia nada de ilícito entre eles;
* A Sra. K era muito infeliz com o marido, que não tinha um bom conceito.

* Relatos descritos por Dora a Freud, sobre o caso do Sr. K:
* Aos 14 anos, o Sr. K. premeditou um modo de agarrar Dora, sozinhos na loja, agarrando-a e beijando-a nos lábios.
* Dora sentiu uma violenta repugnância, evitou o Sr.K e guardou segredo até a confissão durante o tratamento.

4) QUESTIONAMENTOS DE HIPÓTESES DIAGNÓSTICAS DE FREUD:
* Freud poderia supor que Dora era histérica, sem hesitação, pela excitação sexual ter despertado sentimentos desprazerosos, com ou sem sintomas somáticos. Conceituou o caso como sendo uma petite hystérie”pequena histeria e comotaedium vitae vida tediosa; com os mais comuns de todos os sintomas somáticos e psíquicos: dispnéia, tussis nervosa, afonia e possivelmente enxaquecas, junto com depressão, insociabilidade histérica, que provavelmente não era muito levado a sério.
* Freud questionou se o comportamento de Dora, seus dotes e sua precocidade intelectual, como também a predisposição à doença se seriam oriundos de uma genética patológica paterna, aliada à possibilidade da imaginação da cena descrita pela excitação de leituras envolvendo cunho sexual;
* Freud suspeitou da existência em Dora de um trauma sexual oriundo de uma nítida sensação dessa excitação sexual, sendo ela, uma jovem histérica, inequivocamente neurótica.Segundo Freud, a experiência de Dora com o Sr. K. - suas propostas amorosas a ela e a conseqüente afronta a sua honra - pareceu fornecer, no caso da paciente, o trauma psíquico que Breuer e ele declararam, como condição prévia indispensável para a gênese de umestado patológico histérico;
* Freud suspeitou das intenções e da coerência entre os relatos do pai de Dora, pois este  afirmava que não tinha nada com a Sra.K e que era apenas  obstinação e ódio de Dora; por isso queria que Freud a “colocasse no bom caminho”; não se harmonizava muito as suas declarações com as de outras conversas, aonde procurava atribuir a culpa maior pelo comportamento insuportável de Dora à mãe, cujas peculiaridades tiravam todo o gosto pela vida doméstica.
* Freud resolveu suspender um juízo sobre o verdadeiro estado de coisas até que tivesse ouvido também o outro lado.Freud era técnico e franco nas questões sexuais com Dora, atentando ao fato de que Dora sendo virgem, conhecia as práticas sexuais e se ocupava delas em sua fantasia.
Assim, agia com cautela, traduzindo em idéias conscientes o que já se sabia no inconsciente, e toda a eficácia do tratamento se baseia em nosso conhecimento de que a ação do afeto ligado a uma idéia inconsciente é mais intensa e, como ele não pode ser inibido, mais prejudicial que a do afeto ligado a uma idéia consciente.
Ademais ele observava os atos falhos de Dora, dentro dos limites do normal, como as perturbações momentâneas e temporárias, inexatidões do próprio processo psíquico,  esquecimentos, erros , lapsos da fala , lapsos de , os equívocos na ação e “atos casuais”.

5) PASSOS NA METODOLOGIA DO TRATAMENTO NO CASO DE DORA:
1 - Freud começa o tratamento solicitando que lhe seja narrada toda a biografia do paciente e a história de sua doença;

2 - Freud queria como objetivo prático do tratamento, eliminar todos os sintomas possíveis e substituí-los por pensamentos conscientes, reparar todos os danos à memória de Dora, por isso, prestava tanta atenção às suas circunstâncias humanas, sociais, somáticas, sintomas patológicos e circunstâncias familiares de Dora.

3 - Freud suspeitou de que havia um trauma psíquicocomo condição prévia indispensável para a gênese de um estado patológico histérico de Dora;

4 - Freud sabia que nos casos clínicos de histeria, otrauma não bastava para esclarecer a especificidade dos sintomas apresentados como  tussis nervosa, afonia, abatimento etaedium vitae, uma vez que apresentava outros tipos de sintomas.

5 - Freud pensava que estes sintomas tivessem sido produzidos pela paciente anos antes do trauma, e que suas primeiras manifestações remontavam à infância (8 anos); para não abandonar a teoria do trauma, deveria buscar ali influências ou impressões que pudessem ter surtido efeito análogo ao de um trauma., se não desse certo, ele deveria reconstituir a biografia dos pacientes até seus primeiros anos de vida.

6 - Fred questionava a capacidade de Dora poder relatar sobre si mesma, por causa da oscilação entre as coerências e as lacunas dos relatos com ligações aparentes, desconexas, sequências diferentes e incertas.

7 – Freud acreditava que Dora corrigia repetidamente dados e datas, confundindo a exposição ordenada de sua biografiapor causa da sua neurose (que usava o que ela consciente e intencionalmente conhecia, por  não ter ainda superado seus sentimentos de timidez e vergonha pela falta consciente de franqueza), por  causa da amnésia (sem intenção de retenção, mas por insinceridade inconsciente) e  por causa das amnésias verdadeiras - lacunas da memória em que caíram não apenas lembranças antigas como até mesmo recordações bem recentes, preenchidas por ilusões de memória ou paramnésias, formadas secundariamente para preencher essas lacunas na mente de Dora.

8 -  Freud acreditava que as amnésias de Dora era a destruição das ligações gerando alteração da ordem cronológica dos acontecimentos, para não revelar o  elemento mais vulnerável do acervo da memória e o mais facilmente sujeito ao recalcamento, sejam pelas muitas lembranças num primeiro estágio de recalcamento, apresentando-se cercadas de dúvidas, depois substituídas por um esquecimento ou por uma falsificação da memória.

9 - Freud achava que Dora fornecia os fatos que, embora sempre fossem de seu conhecimento, tinham sido retidos por ela ou não lhe haviam ocorrido, como ilusões de memória insustentáveis e lacunas são preenchidas.

10 - Freud acreditava que só quando o tratamento de Dora se aproximasse do seu término é que teria uma história clínica inteligível, coerente e sem lacunas, por causa do trauma psíquico, o conflito dos afetos e a comoção na esfera sexual que ela sofrera aos 14 anos, sendo ainda virgem.

11 – Freud queria esclarecer a questão da inversão deafetos, nessa excitação sexual geradora de sentimentos desprazerosos envolvendo a psicologia das neuroses de Dora – num deslocamento de sensação - No caso dela não houve apenas a inversão do afeto, mas um deslocamento da sensação genital de desprazer para uma imprópria  estimulação da membrana mucosa da entrada do tubo digestivo, gerando repugnância.

12 - Freud negava a estimulação labial do beijo como único fator do sintoma permanente, sendo agravado por mal alimentação e aversão a alimentos, gerando uma  alucinação sensorial, como o sentir da pressão do abraço do Sr. K., segundo regras de formação de sintomas observados por ele.

13 - Freud supôs o real motivo da percepção revoltante para Dora, que tinha sido eliminada, por ela, de sua memória, sendo recalcada e substituída pela sensação inocente de pressão sobre o tórax, que extraía de sua fonte recalcada uma intensidade excessiva: Freud imaginou na reconstrução da cena, durante o abraço, Dora tendo sentido o beijo em seus lábios e a pressão do membro ereto contra seu ventre; ou seja, Dora deslocou, da parte inferior, para a parte superior do corpo, gerando a compulsão em seu comportamento da construção de uma lembrança tida como inalterada: Assim, Dora não gostava de passar por nenhum homem a quem julgasse em estado de excitação sexual porque não queria voltar a ver o sinal somático desse estado, a ereção peniana.

14 - Freud ressaltou a origem do sentimento de nojo de Dora – os 3 sintomas (repugnância, sensação de pressão na parte superior do corpo e evitação dos homens em conversa afetuosa), são provenientes da mesma experiência, formando sentimento de nojo, sintoma de recalcamento da zona erógena dos lábios (mimada demais em Dora, pelo sugar infantil).
A pressão do membro ereto provavelmente levou ao entumescimento excitatório do clitóris de Dora, cuja excitação foi fixada no tórax por deslocamento para a sensação simultânea de pressão, gerando fobia de excitação sexual masculina, como querendo se proteger contra o reavivamento da percepção recalcada de sua libido.

15 - Freud supôs que o nojo ou repugnância de Dora, seria uma reação olfatória e visual em reação ao órgão masculino do Sr. K, numa associação evocada; visto que Freud perguntara a ela se conhecia o fato da ereção peniana, e ela ter dito que sim, decerto Dora relacionara a ereção à micção urinária, sendo a única parte idealizatória conhecida por Dora, uma vez em que ainda não tivera um período sexual, mas apenas a pré-sexual.
Observações importantes: A correlação entre fogo e micção, que é o aspecto central deste estudo sobre o mito de Prometeu, há muito tempo era assunto familiar a Freud. A estreita associação, fisiológica e psicológica, entre as duas funções do pênis, interligando a  incontinência urinária que ocorre quando o indivíduo está dormindo e a masturbação, na diferença anatômica entre os sexos. Outra correlação referente ao erotismo uretral, na área da formação do caráter e a ambição pela conexão com sentimentos de grandeza e megalomania.

16 - Fred queria aprofundar na sessão com Dora, assuntos inconscientes sobre o Sr. K, mas Dora associava de forma superficial e conscientemente lembrado, fatos relacionados com o painão perdoando-o por continuar a manter relações com o Sr. K. e, mais particularmente, com a Sra. K, ligando o seu pai àquela mulher jovem e bonita num relacionamento amoroso corriqueiro, numa percepção sem lacuna de memória para Dora, crendo esta que o caso deles começara antes da doença e via, o comportamento destes inclusive relacionando às viagens e proximidades dos aposentos, trocas de presentes, doações de dinheiro entre a Sra. K e o pai de Dora que usava a doença como pretexto para rever a amiga. Para Dora, o pai era insincero, havia um traço de falsidade em seu caráter, só pensava em sua própria satisfação e tinha o dom de arranjar as coisas da maneira que mais lhe conviesse e que sabia fugir a um conflito falseando seu julgamento sobre uma das alternativas em oposição.

17 - Freud ao tomar conhecimento pelos relatos de Dora dos acontecimentos vexatórios envolvendo o pai de Dora, não contestou de maneira geral a caracterização do pai, procurando ver qual recriminação particular Dora estava justificada.Questionou se a raiva dela não seria por achar que teria sido entregue ao Sr. K como prêmio pela tolerância dele para com as relações entre sua mulher e o pai de Dora; e por trás da ternura desta pelo pai podia-se pressentir sua fúria por ser usada dessa maneira.

18 - Surgiu, então, no tratamento psicanalítico, uma seqüência correta, fundamentada e incontestável de pensamentos, representando embaraço para  Freud  e aproveitamento para Dora: Freud sabia que não havia tido um pacto formal de que Dora fosse tratada como objeto de troca, mas pela insatisfação do pai de Dora com a mulher dele, e falta de capacidade de julgamento do pai de Dora, o pai de Dora era incapaz de duvidar da conduta e pretensões do Sr. K. que pôde aproveitar todas as oportunidades para cortejar amorosamente a filha, de forma indiscreta.

19 - Freud observou que Dora estava usando os pensamentos inatacáveis pela análise para acobertar outros que se querem subtrair da crítica e da consciência –autocensuras de conteúdo idêntico numa paranóia de formação de delírio - ponto fraco real do oponente é ênfase principal na repetição do mesmo conteúdo, que na paranóia, essa projeção da censura em outrem sem qualquer alteração do conteúdo, torna-se manifesta como processo de formação do delírio. Dora tinha razão em achar que seu pai não queria esclarecer o comportamento do Sr. K. em relação a ela para não ser molestado em seu próprio relacionamento com a Sra. K.,Dora fizera precisamente o mesmo; sendo cúmplice, se desentendendo com a governanta (uma moça solteira e mais velha, muito lida e de opiniões avançadas, notando que esta estava apaixonada por seu pai).

20 - Freud observou que Dora estava agindo da mesma forma de sua antiga governanta para os filhos do Sr.K, extraindo a mesma conclusão de estar apaixonada por quem não podia ter, tendo Dora, interesse comum pelos filhos como um elo entre o Sr. K. e ela, aonde o ocupar-se de crianças era para Dora um disfarce destinado a ocultar dela mesma e dos outros alguma outra coisa.

21 - Freud observou que Dora estava agindo da mesma forma de seu pai, pela censura de não querer ouvir aos chamados imperativos do dever e por arranjar as coisas da maneira mais conveniente do ponto de vista do próprio enamoramento, ou seja, a censura que ela fazia contra o pai recaía sobre sua própria pessoa; da mesma forma, criando doenças como o pai, como um pretexto de explorar em proveito próprio, de modo secreto. Ou, por outro lado, o sintoma pode ser o mesmo que o da pessoa que é amada. O que se sugere é que, quando algum incidente fortuito na vida posterior inibe o desenvolvimento normal da sexualidade, a conseqüência pode ser o ressurgimento da sexualidade infantil “indiferenciada”.
Observações importantes:
Dora imitava a tosse do pai, aonde a identificação apareceu no lugar da escolha de objeto e que a escolha de objeto regrediu para a identificação (forma mais primitiva e original do laço emocional).
Quando os sintomas são construídos, ou seja, onde há repressão e os mecanismos do inconsciente são dominantes, a escolha de objeto retroaje para a identificação: o ego assume as características do objeto. É de notar que, nessas identificações, o ego às vezes copia a pessoa que não é amada e, outras, a que é, numa identificação parcial e extremamente limitada, tomando emprestado apenas um traço isolado da pessoa que é objeto dela.
A regressão “temporal” tem relações mais estreitas com o material clínico, relacionada com um exame das perversões.
Na censura pela “simulação” de doença que Dora fez ao pai, Dora não apenas tinha  autocensuras de estados patológicos anteriores, como da época atual de Dora, aonde o seu atual estado de saúde era tão determinado por motivos e tão tendencioso quanto fora a doença da Sra. K., que ela entendera.
Dora também visava a um objetivo que esperava alcançar através de sua doença, que era fazer seu pai afastar-se da Sra. K, mediante súplicas ou argumentos ,esperando assustar o pai (carta de despedida), despertando sua compaixão (pelos desmaios) ou se vingando dele, não renunciando ela tão facilmente à sua doença.

22 – Freud observou que Dora copiava sintomas novos de outras pessoas, queixava-se de sintomas supostamente novos, se identificava, simulava e aprendera, observando quanto proveito se podia tirar das doenças.
Dora tinha observado que a doença na Sra. K. era motivada pela presença do marido, sendo a doença bem-vinda para escapar aos deveres conjugais que tanto detestava.

23 – Freud observou que Dora fez uma observação repentina sobre suas próprias alternações entre doença e saúde nos primeiros anos de sua infância e Freud suspeitou de mais alguma coisa -
Na técnica da psicanálise existe uma regra de que uma conexão interna ainda não revelada se anuncia pela contigüidade, pela proximidade temporal entre as associações -A duração dos acessos de tosse e perda de voz de Dora coincidiam com a ausência do homem secretamente amado fazendo aparecer os sintomas patológicos, alternadamente para não relatar seu segredo; assim, Dora usava a doença para demonstrar seu amor por K., tal como a mulher dele demonstrava sua aversão, num comportamento oposto do da Sra. K..

24 – Freud observou que Dora agia com Mutismo histérico, numa afonia específica e acidental, numa função fisiológica substitutiva criada pela necessidade, aonde Dora se fazia entender pela escrita e não pela voz, numa interpretação simbólica: quando o amado Sr. K estava longe, ela renunciava à fala; esta perdia seu valor, já que não podia falar com ele. Por outro lado, a escrita ganhava importância como único meio de se manter em relação com o ausente, uma vez que este lhe mandava cartões postais quando viajava.

25 – Freud observou que os sintomas da histeria de Dora eram de origem psíquica e somática num mesmocondicionamento psíquico, numa complacência somáticafornecida por algum processo normal ou patológico no interior de um órgão do corpo ou com ele relacionado – o sintoma histérico se repetia numa significação psíquica, um sentido, por causa de pensamentos suprimidos que lutam por se expressar, uma série de fatores que operam para relacionar os pensamentos inconscientes e os processos somáticos  como meios de expressão.

26 – Freud observou que os determinantes mais importantes para a terapia de Dora, são os fornecidos pelo material psíquico acidental dela, aonde os sintomas são dissolvidos buscando-se sua significação psíquica. Após removidos os obstáculos pela psicanálise, Freud indagou sobre as bases somáticas dos sintomas, se são constitucionais e orgânicas, como os acessos de tosse e afonia de Dora, indicando o fator orgânico na complacência somática (proporciona aos processos psíquicos inconscientes uma saída no corporal) e o conteúdo dos pensamentos inconscientes que lhe possibilitou expressar sua afeição por um amado temporariamente ausente, como habilidoso e impressionante artifício.
Observações importantes:
O problema da histeria de Dora não era mais nervoso, nem suscetibilidade aos “estados hipnóides”, mas uma “complacência somática” (proporciona aos processos psíquicos inconscientes uma saída no corporal), uma característica particular da histeria diferenteoutras psiconeuroses.
Quando esse fator não se faz presente, surge da situação total um sintoma psíquico diferente de um sintoma histérico, como uma fobia ou idéia obsessiva.

27 – Freud tratou de diferenciar os motivos e a possibilidade do adoecimento de Dora – Os motivos do adoecimento de Dora diferem das possibilidades do adoecimento dela, envolvendo o material de que se formam os sintomas. Os motivos de Dora não têm participação alguma na formação dos sintomas e nem sequer estavam presentes no início da doença, aparecendo secundariamente, constituindo plenamente a enfermidade. Havia um sofrimento real e de longa data, indesejável psiquicamente, mas que apresentou uma resistência no caso de que, mesmo se sentido extremamente infeliz, Dora temia ficar desamparada, se acostumando a sofrer.
Observações importantes:
Os motivos para o adoecimento de Dora começaram na infância.
A menina sedenta de amor, que a contragosto partilha com seu irmão a afeição dos pais, percebe que toda esta volta a afluir-lhe quando seu adoecimento desperta a preocupação deles.
Agora ela conhece um meio de atrair o amor dos pais, e se valerá dele tão logo disponha do material psíquico para produzir uma doença.
A doença é uma arma de afirmação, proporcionando a Dora, uma ansiada consideração, forçando os outros a demonstrar-lhe respeito que não teria se ela estivesse com saúde, e o obriga a tratá-la com prudência caso ela se recupere, pois do contrário poderá haver uma recaída.
O caráter aparentemente objetivo e involuntário de seu estado patológico, defendido pelo médico encarregado de tratá-la por certo defenderá, possibilita esse uso oportuno, sem autocensuras conscientes, de um meio que ela constatara ser eficaz desde a infância.
A doença de Dora seria obra de intenção inconsciente,mas seria preciso tentar, primeiro, pelas vias indiretas da análise, fazer com que ela se convencesse da existência dessa intenção de adoecer.

28 – Freud procurou verificar se os relatos de Dora eram verdadeiros ou fictícios – Dora desejava claramente sensibilizar o pai e afastá-lo da Sra. K. Ela ficava muito irritada quando seu pai dizia que a cena do lago tinha sido fantasia dela.
Segundo Freud, a censura mentirosa não persiste; mas ele acreditava que a autocensura e as acusações de Dora deveriam ser contra o pai, pois se repetiam com cansativa monotonia e ao mesmo tempo sua tosse continuava; um dos significados de um sintoma corresponde à representação de uma fantasia sexual; têm mais de um significado e servem para representar simultaneamente diversos cursos inconscientes de pensamento e um único curso de pensamento ou fantasia inconsciente dificilmente bastará para a produção de um sintoma; assim, a tosse nervosa de Dora seria uma interpretação mediante uma situação sexual fantasiada. Ele afirmou que combatendo os motivos da doença histérica de Dora, não precisaria atacar a constituição ou o material patogênico dela, procurando conhecer os interesses vitais que ela ocultava, que sustentavam a sua condição de doente, sejam eventos externos como perdas, lutos, traumas ou puramente internos, como, autopunição, arrependimento ou penitência  de Dora.

29 - Freud verificou que motivos sexuais estariam por trás das autocensuras e acusações de Dora -  pela técnica da análise das frases ditas por Dora sobre as  relações do pai com a Sra. K serem algo corriqueiro e que seu pai seria sem posses,  que Dora teria obtido satisfação sexual no uso da tosse espasmódica, como estímulo uma sensação de cócega na garganta, representava uma cena de satisfação sexual entre as duas pessoas cuja ligação amorosa a ocupava tão incessantemente (sexo oral). Freud afirmava que as aberrações das pulsões sexuais perversas de Dora serviam de oportunidade para expressar sua repugnância pessoal sobre coisas que a revoltavam.

Segundo Freud, Dora não havia sublimado sua disposição sexual, psiconeurótica, recalcada inconsciente e inibida no curso de seu desenvolvimento, cuja forças impulsoras da formação dos sintomas histéricos provinham da sexualidadenormal recalcada e das moções perversas inconscientes, ou seja: sua constituição sexual hereditária atuava em combinação com as influências acidentais de sua vida (gostava de chupar o dedo, se auto-gratificando).
Freud associou a excitação da membrana mucosa dos lábios e da boca de Dora como uma zona erógena primária, aonde o conhecimento do pênis aumentou a excitação da zona da boca, no desejo de substituir, na situação de satisfação, o mamilo originário e o dedo que fazia as vezes dele pelo objeto sexual atual, o pênis. Segundo Freud, Dora tinha conversão de produção de vínculos associativos entre um novo pensamento hiperintensivado, carente de descarga e o antigo  material inconsciente, recalcado, reativo, que se ocultava por trás desse primeiro material inconsciente, sendo na maioria das vezes, seu oposto direto.
Segundo Freud, a preocupação obsessiva com as relações entre seu pai e a Sra. K. ia muito além da esfera de interesse de uma filha, mais como de uma esposa ciumenta, se estava colocando no lugar da mãe, ou seja, se identificava com as duas mulheres, a que o pai amara um dia e a que amava agora; ou seja, Dora estava apaixonada por seu pai.

30 - Freud verificou que motivos inconscientes seriam os causadores desta conversão associativa do Complexo de Édipo:
Segundo Freud, Dora tinha amadurecimento precoce, era faminta de amor, tendo aumentado sua ternura por seu pai através das doenças, tornando-se confidente dele e fora desalojada da posição com o aparecimento da Sra. K, sendo cordial com ela por autocensura, sendo um sintoma reativo para suprimir algo inconsciente, que era o amor pelo Sr. K. Por  motivos desconhecidos, seu amor tropeçava numa violenta resistência, reforçando a velha afeição pelo pai para não ter de lembrar na consciência sobre esse amor adolescente, agora penoso para ela.
Para Freud, Dora era orgulhosa e ciumenta, tendo esta se convencido de que teria rompido com o Sr.K, se voltando à afeição infantil anterior, seu pai.

31 - Freud verificou que motivos inconscientes eram a base do ciúme e orgulho de DoraFreud constatou a possibilidade de uma libido sexual suprimida pelo sexo masculino, dirigida ao seu mesmo sexo feminino, aonde sua amizade entusiasmada pela Senhora K, a prima de Dora e a antiga governanta envolveram toda uma sensibilidade de ciúme precurssor comum da primeira paixão intensa de Dora, como moça, por um homem, no caso, o Sr.K..
Dora falava com freqüência da desavença com sua segunda prima, que tinha ficado noiva; ela era confidente e conselheira da Sra. K se acostumando a elogiar o corpo dela;  dizia que reconhecia o gosto, levando Freud a concluir na análise, a possibilidade de Dora achar inconscientemente que seu pai a sacrificara a essa mulher, aonde o ciúme feminino estava ligado, no inconsciente, ao ciúme que um homem sentiria, como sentimento masculino traído, próprio do histerismo feminino.

32 - Freud analisou o primeiro sonho de Dora:


Visando esclarecer pontos obscuros da infância de Dora através do material que se impunha à análise, Freud se interessou no tratamento, investigando o entrelaçamento do sonho repetido, da trama, numa análise cuidadosa:

uma casa estava em chamas, papai estava ao lado da minha cama e me acordou. Vesti-me rapidamente. Mamãe ainda queria salvar sua caixa de jóias, mais papai disse:” não quero que eu e meus dois filhos nos queimemos por causa da sua caixa de jóias. “Descemos a escada ás pressas e, logo que me vi do lado de fora acordei.”

Segundo Freud, o sonho recorrente repetitivo tinha a ver com o Sr. K e Freud procurou descobrir so motivo da repetição decompondo o sonho, cujo vínculo da causa recente e da causa original do sonho era uma reação à experiência vivida que gerava incerteza, associada a alguma lembrança infantil, cujo mecanismo da formação dos sonhos envolvia um desejo recalcado  inconsciente.
Freud questionou qual o sentido do sonho de Dora, muito diversificado quanto os processos de pensamento da vigília, podendo ser um desejo realizado, um temor realizado, uma reflexão prosseguida durante o sono, um propósito ou um fragmento de produção mental durante o sono, de modo condensado e deslocado.
Ele então concluiu que no sentido dos sonhos, a única forma de pensamento era a representação de desejos, envolvendo os genitais femininos, rivalidade e desejo sexual recalcado, aonde Dora evocava seu antigo amor por seu pai para se proteger de seu amor pelo Sr. K, numa tentação (mistura de temor e desejo) de pensamentos amorosos, necessidade física de disposição a ceder, ânsia de um beijo, do pênis na boca, num sonho de advertência e a formar a intenção de interromper o tratamento.
Freud concluiu que Dora se masturbara na infância e se auto-acusava, possuindo um ato sintomático de bulinar com uma bolsinha de moedas usando o dedo, queria brincar de “segredo” e transferia à sua prima como masturbadora, numa resistência emocional de reconhecer em sua própria pessoa essa atitude. Sua ânsia de asma envolvia ter escutado a respiração ofegante do coito, pelos movimentos expressivos da excitação sexual como mecanismo inato no som entreouvido da relação sexual entre adultos. Freud concluiu que houve uma reviravolta na sexualidade da menina, substituindo sua inclinação para a masturbação por uma inclinação para a angústia de pensamentos, possuindo ela, também uma secreção anormal da mucosa vaginal que tinha como repugnância, oriundo de um gozo sexual prematuro, de um círculo de pensamentos de tentação sexual suprimidos associados , aonde Dora parecia entender a mania de limpeza da mãe era uma reação contra a imundície do pai.

33 - Freud analisou o segundo sonho de Dora:

“Eu estava passeando por uma cidade que não conhecia, vendo ruas e praças que me eram estranhas.Cheguei então a uma casa onde eu morava, fui ate o quarto e ali encontrei uma carta da mamãe. Dizia que, como eu saia de casa sem o conhecimento dos meus pais, ela não quisera escrever-me que o papai estava doente. Agora ele morreu e, se quiser você pode vir. “Fui então para estação e perguntei umas cem vezes:” Onde fica a estação?” Recebia a resposta:” Cinco minutos. ”Vi depois à minha frente um bosque espesso no qual penetrei, a ali fiz a pergunta a um homem que eu encontrei. Disse-me: Mais duas horas e meia. Pediu-me que eu deixasse acompanhar-me. Recusei e fui sozinha. Vi a estação a minha frente não conseguia alcançá-la. Ai me veio um sentimento habitual de angustia de quando, nos sonhos, não se consegue ir adiante. Depois, eu estava em casa; nesse meio tempo, tinha de ter viajado, mas nada sei sobre isso. Dirigi-me à portaria e perguntei ao porteiro por nossa casa. “A criada abriu para mim e respondeu: A mamãe e os outros já estão no cemitério.” 



Freud entendeu o segundo sonho como uma confirmação desejada do primeiro, mas envolvendo outra pessoas, um jovem alemão, mesmo que nem todo o sonho ficou esclarecido, mas a situação constitutiva da fachada do sonho correspondia a umafantasia de vingança por ciúme contra o pai, por Dora ter sido “devorada” pela curiosidade sexual, gerando fantasia de defloração, de parto, crendo que Dora, quando criança, lera calmamente sobre matérias proibidas numa enciclopédia. Além disso, Freud teria falado sobre a possibilidade de Dora ter acreditado que o Sr. K teria pensado em se divorciar da mulher para se casar com ela, fato que desagradou a Dora e por fim, a fez querer se vingar de Freud, dando ruptura ao tratamento. Freud concluiu dos dois sonhos, que o primeiro sonho significaria o afastamento do homem amado em direção ao pai, ou seja, a fuga da vida para a doença, esse segundo sonho anunciaria que ela se desprenderia do pai e ficaria recuperada para a vida. O tratamento terminou cerca de três meses depois de iniciado, em 31 de dezembro de 1899.

34 – Fatos posteriores e conclusivos sobre Dora após o final do tratamentoFreud  observou que no caso de Dora, asmanifestações patológicas foram sustentadas pelo seu conflito interno, concernentes à sexualidade, aonde ele procurou traduzir o material patogênico em material normal, visando solucionar seus problemas psíquicos, a despeito da diversidade que teve pelo fato de seus sintomas estarem vinculados a outros motivos vitais externos dela, nos últimos dois anos. Freud não tomou precaução e ignorou o fato de Dora apresenter sinais de transferência de crueldade e de vingança, vendo Freud como seu pai, pelo fato do pai preferir segredos e rodeios tortuosos; e também vendo-o como o Sr. K, o que a fez abandonar o tratamento como uma forma de vingança inconsciente, seja por questão de dinheiro ou de ciúmes de outra paciente, tornando o tratamento fragmentado.

35 – Considerações finais de Freud sobre o caso Dora:Depois de 15 meses do término do tratamento e da redação do caso, Freud soube que Dora esteve atrapalhada, com poucos ataques, tendo falado com a Sra. K sobre o relacionamento dela com seu pai, possuindo nevralgia facial do lado direito, como  autopunição, ao remorso pela bofetada que ela dera no Sr. K. e pela transferência vingativa feita a Freud.
Após vários anos, a moça se casou, O primeiro sonho significara o afastamento do homem amado em direção ao pai, ou seja, a fuga da vida para a doença, esse segundo sonho anunciou que ela se desprenderia do pai e ficaria recuperada para a vida. Freud conceitou o caso Dora como sendo um conflito desempenhado pela oposição entre uma atração pelos homens e outra pelas mulheres. Freud afirmou que tentou inúmeras vezes submeter essa experiência à análise, mas nem mesmo exigências diretas conseguiram da paciente mais que a mesma descrição pobre e incompleta.
Só depois de ter sido feito um longo desvio, que a levou de volta à mais tenra infância, surgiu um sonho que, ao ser analisado, lhe trouxe à mente detalhes daquela cena, até então esquecidos, e assim uma compreensão e solução do conflito do momento tornaram-se possíveis.
Isso fez Freud abandonar a técnica de regressão na técnica analítica, falou acerca da teoria da sexualidade sucessora imediata do livro dos sonhos, analisou os impulsos da idade adulta pelo material infantil, abordando sobre a questão da repressão e da transferência no tratamento analítico, bem como o abandono da  técnica de ‘pressão’ e os elementos de sugestão, percebendo a importância das fantasias como bases dos sintomas histéricos.
Freud estudou sobre as primeiras manifestações da constituição instintual inata de Dora e os efeitos de suas primeiras experiências, forças motivadoras que levaram à neurose, aonde na relação edipiana, Dora possuía inveja do pênis, vendo, sabendo o que não o tem e querendo tê-lo, recusando o fato de ser castrada, gerando sentimento de inferioridade de fácil deslocamento, persiste no traço característico do ciúme  enormemente reforçado por parte da inveja do pênis deslocada, havendo afrouxamento da relação afetuosa da menina com seu objeto materno e aproximação do outro sexo, desejado, ao ponto de querer ser mãe de um filho ou dona de um pênis-menino.
Dora deveria se sentir insatisfeita e se mostra enciumada com outras crianças, baseando-se em que sua mãe gosta mais dessa criança do que dela, o que serve de razão para ela abandonar sua ligação com sua mãe. 
Freud finaliza o estudo do caso de Dora, abordando o fato de que apesar do menor senso de justiça, menor aptidão, mais influência por sentimentos de afeição ou hostilidade femininos, na verdade, todos os indivíduos humanos, em resultado de suadisposição bissexual e da herança cruzada, combinam em si características tanto masculinas quanto femininas, de maneira que amasculinidade e a femininidade puras permanecem sendo construções teóricas de conteúdo incerto.
6) CONCLUSÃO DO CONTEÚDO PSICANALÍTICO DO CASO DORA:
A família de Dora possuia perturbações psíquicas, psicose, neurose obsessiva, doença histérica, psiconeurose e hipocondria.
Dora apresentou as seguintes características psicológicas:
* Sintomas sexuais psiconeurose histérica suprimido (petite hystérie);
* Trauma psíquico, gerado pelo recalcamento, inversão de afetos de excitação sexual, deslocamento de sensação genital de desprazer e de pressão, alucinação sensorial,  fobia de excitação sexual masculina;
* Associação evocada, autocensura de conteúdo idêntico numa paranóia de formação de delírio e projeção da censura copiando sintomas de mutismo histérico, afonia específica e acidental e angústia, sinais de transferência de crueldade e de vingança,  autopunição, ao remorso;
* Função fisiológica substitutiva de uma interpretação simbólica em condicionamento psíquico através de pensamentos suprimidos inconscientes;
* Processos de significação psíquica de complacência somática geradores de obra de intenção em situação sexual fantasiada;
* Falta de sublimação da disposição sexual e perversão;
* Conversão de pensamentos hiperintensivados, carentes de descarga com sonhos recorrentes repetitivos, condensados e deslocados, gerando fantasias de vingança, de defloração, de parto;
Conflito de oposição e atração pelo sexo masculino e feminino, oriundos da fase instintual inata, inveja do pênis, recusa do fato de ser castrada, gerando sentimento de inferioridade de fácil deslocamento,  afrouxamento da relação afetuosa maternal e ao mesmo tempo, o desejo de ser mãe;
Hostilidade, diminuição do senso de justiça, afeição;

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