sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

O PEQUENO HANS

1) CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS:


A) EVENTOS ENVOLVENDO FREUD, ANTES DO CASO “O PEQUENO HANS”:
Freud estudava a vinculação da masturbação com as fantasias, no artigo sobre fantasias histéricas (1908), e sua conexão com a ameaça de castração, no trabalho sobre teorias sexuais infantis (1908).

B) EVENTOS ENVOLVENDO FREUD, DURANTE O CASO “O PEQUENO HANS”:
1909 - Análise de uma Fobia em um Menino de Cinco Anos, baseado nos seus pontos de vista em exames psicanalíticos de adultos; tudo que o pequeno Hans revela, terminará por tornar-se típica do desenvolvimento sexual das crianças em geral.
Freud achava que as investigações do pai de Hans poderiam não êxito em alguns aspectos; contudo, não queria impedi-lo para não travar a possibilidade do conhecimento dessa espécie de fobia que Freud queria conhecer e denominar a partir de seus objetos.

C) EVENTOS ENVOLVENDO FREUD, DEPOIS DO CASO “O PEQUENO HANS”:
Freud escreveu artigo sobre O Esclarecimento Sexual das Crianças e Freud escreveu a obra Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (1905d). Freud queria estudar a vida mental das crianças ou a fornecer alguma crítica dos objetivos educacionais. A publicação dessa primeira análise de uma criança causou grande agitação e indignação, pois acreditavam que ele tinha sido roubado a inocência, sendo vítima da psicanálise.

2) DADOS PESSOAIS SOBRE O PACIENTE “O PEQUENO HANS”:

CASO: O PEQUENO HANS
A) NOME E IDADE:
O pequeno Herbert; mas o nome foi mudado para pequeno Hans depois da publicação da obra.

B)  HISTÓRICO FAMILIAR:
O pai de Hans era ansioso e curioso, psicanalista;acusava a mãe de ser responsável pela manifestação da neurose da criança, em face de suas excessivas demonstrações de afeto para com Hans, e também da freqüência e facilidade com que o levava para sua cama.
A mãe de Hans era terna, acostumada a levar Hans para a cama com ela.
Tia M. elogiou o pênis de Hans para sua mãe “Que amor de coisinha que ele tem”, ao observar a mãe dar banho no menino.

C) HISTÓRICO CRONOLÓGICO DO PACIENTE “O PEQUENO HANS”:
* (1903)   (Abril) Nascimento de Hans.
* (1906)   (3 - 3 ¾ anos de idade) Primeiros relatos.
* (3 1/4 - 3 ½ anos de idade) (Verão) Primeira visita a Gmunden.
* (3 ½ anos de idade) Ameaça de castração.
* (3 ½ anos de idade) (Outubro) Nascimento de Hanna.
* (1907)   (3 ¾ anos de idade) Primeiro sonho.
* (4 anos de idade) Mudança para um novo apartamento.
* (4 1/4 - 4 ½ anos de idade) (Verão) Segunda visita a Gmunden e episódio do cavalo que mordia.
* (1908) (4 ¾ anos de idade) (Janeiro) Episódio da queda do cavalo. Irrupção da fobia. Hans era superalimentado o que gerou problemas de contispação intestinal e ele fez uso de uma dieta moderada.
* (5 anos de idade) (Maio) Fim da análise.

D) TRAÇOS DE PERSONALIDADE E MODO DE VIDA DO PEQUENO HANS:
* Era alegre e animado;
* Agia com sentimentalismo e fazia observações sobre a ausência da mãe.
* Tinha ansiedade mesclada com nítidos traços de ternura, auto-segurança;
* Era agradável e se comportava de modo exemplar, bom e vivaz;
* A experiência de deixá-lo crescer e expressar-se sem intimidações prosseguiu satisfatoriamente;
O menino demonstrava um grau de clareza incomum;

E) RESUMO DO QUADRO CLÍNICO:
* O pai e a mãe de Hans tinham o hábito de levar Hans para a cama deles, embora apenas ocasionalmente; e estar ao lado deles despertava-lhe sentimentos eróticos.Para Hans, a presença ou ausência de um pipi tornava possível diferenciar objetos animados de inanimados. Ele presumiu que todos os objetos animados eram como ele, e possuíam esse importante órgão corporal; ele observou que este estava presente nos animais maiores, suspeitou que era assim também no seus pais, e não foi dissuadido pela evidência dos seus próprios olhos ao autenticar o fato na sua irmã recém-nascida.
* Hans apresentava distúrbio nervoso, superexcitação sexual devida à ternura de sua mãe;
* Hans foi motivado pelo consolo e desafio pela velha ameaça de sua mãe, de que ele lhe cortaria fora o pipi se ele continuasse brincando com ele (ele tinha três anos e meio).
* Hans apresentou sonho de ansiedade (4 anos e 9 meses);
* Hans recebia estimulação corporal pelo fato da mãe dar-lhe banho;
* Hans recebia estimulação corporal pelo fato de ter uma babá para si;
* Hans teve duas tentativas de seduzir sua mãe, datando a primeira delas do verão e a segunda, no simples elogio feito ao seu próprio pênis;
* A ansiedade de Hans, que assim correspondia a uma ânsia erótica reprimida, como toda ansiedade infantil, não tinha um objeto com que dar saída: ainda era ansiedade, e não medo.
* À hora de dormir, a intensificação de sua libido apossava-se dele: pois o objeto desta era sua mãe, e seu objetivo talvez tenha sido dormir com ela.
* Hans admitia que ele, toda noite antes de ir dormir, brincava com seu pênis.
* Ele gostava muito de sua mãe e que queria que ela o levasse para sua cama. A razão por que ele tinha então medo de cavalos se explicava por ele se haver interessado muito pelos seus pipis.
* Sua libido relacionada com um desejo de ver o pipi de sua mãe.
* A principal participação na patogênese da atual condição de Hans ao seu hábito de masturbar-se.
* Hans tinha a mesma curiosidade, orientada para um novo objeto e coerentemente com um período de repressão ocultada sob um propósito moralizador.
* Hans teve uma fantasia masturbatória, equivalente a um sonho, com a intenção evidente de autojustificar-se de que a mãe mostra o seu pipi e ele também podia mostrar o seu.
* O prazer para Hans ficou prejudicado para ele, devido à inversão global do prazer em desprazer que havia tomado conta de todas as suas pesquisas sexuais; quanto ao fato de que as mulheres na verdade não possuem pipi, estava fadada a ter apenas um efeito destruidor sobre sua autoconfiança e a ter originado seu complexo de castração. Por essa razão é que ele ofereceu resistência à informação, e pela mesma razão ela não produziu efeitos terapêuticos. Seria possível haver seres vivos que não tivessem pipis? Se assim fosse, não mais se poderia duvidar de que eles pudessem fazer desaparecer seu próprio pipi e, se assim fosse, transformá-lo em mulher;
* A fantasia de desafio de estar com sua mãe, estava relacionada com a sua satisfação pelo triunfo alcançado sobre a resistência de seu pai.

3) FASES DO TRATAMENTO COM FREUD:
A) ENCONTRO COM FREUD:
* Hans não objetou ir ver a Freud quando seu pai disse que ele tinha uma filhinha muito bonita, ao que Hans de boa vontade e contente, consentiu.

B) (QUEIXA PRINCIPAL DO TRATAMENTO):
Apresentando distúrbio nervoso à noite; medo decavalo mordê-lo na rua;
* Era receoso de sair à rua e ficava desanimado à noite;
* Com medo do cavalo entrar no quarto.
* À noite, deitado na cama, ele ficava habitualmente muito sentimental.
* Fez observação sobre não ter a mãe ou se ela fosse embora;
* Hans estava tentando utilizar as observações que sua Tia M. fez sobre o seu pênis para seus próprios fins.
* Mostrou sinais de medo de animais que em outras ocasiões ele olhava sem se alarmar – afirmando que os animais grandes têm pipis grandes.

C) GRAU DE MATURAÇÃO SEXUAL DO PEQUENO HANS (INDÍCIOS PERCEPTIVOS):
* Em idade deveras precoce ele havia notado como são grandes os pênis dos cavalos, e nessa época deduziu que sua mãe, por ser tão grande, deveria ter um pipi como o do cavalo;
* Com 3 anos, por intermédio de várias observações e perguntas, ele demonstrava um interesse particularmente vivo pela parte do corpo que ele chamava de seu “pipi” e perguntou à mãe se ela tinha um “pipi”.
* Como a mesma idade, viu ordenharem uma vaca e disse: “_está saindo leite do pipi dela”;
* Com (3 anos e 1/2), o pequeno Hans, disse que viu o pipi de um leão.
* O grande evento na vida de Hans foi o nascimento de sua irmãzinha Hanna.
* Com (3 anos e 9 meses), Hans perguntou ao pai se ele tinha pipi;
* Com (3 anos e 9 meses) Hans contemplava admirado as duas filhas de 10 anos de idade, do amigo amigo de seu pai, N., e falava delas como se fossem “as suas meninas”;
* Com 4 anos, um primo de 5 anos, veio visitar Hans e ele colocava os braços ao redor dele e dizia que gostava dele. Era o primeiro traço de homossexualidade deparado e o pequeno Hans parecia ser um modelo positivo de todos os vícios.
Com 4 anos, Hans descobriu uma menina de 7 ou 8 anos de idade e a admirava horas a fio e a violência desse amor à distância, o afetou de forma que não teve companheiros de folguedos de qualquer dos dois sexos.
* Perto de 4 anos e ½, Hans teve amigos como os filhos do senhorio: Franzl (cerca de 12 anos), Fritzl (8), Olga (7) e Berta (5). Além deles, as filhas do vizinho, Anna (10) e mais duas outras meninas, de 9 e 7 anos. O favorito de Hans era Fritzl, que ele sempre estava abraçando, e a quem fazia declarações do seu amor e tratava as meninas de forma muitíssimo agressiva, masculina e arrogante, abraçando-as e beijando-as com sinceridade.
* Com 4 anos e 3 meses, a mãe de Hans lhe deu seu banho diário, aplicando-lhe talco. Quando a mãe lhe passava talco em volta do seu pênis, tomando cuidado para não tocá-lo, Hans achou divertido que sua mãe tocasse no seu pênis e ela disse que não tocaria porque era porcaria e não seria correto.
* Hans com (4 anos e 1/2) viu darem banho em sua irmãzinha e começou a rir, dizendo que o pipi de Hanna era bonito; mas que na verdade queria dizer que era engraçado. Foi a primeira vez em que Hans reconheceu a diferença entre os genitais masculinos e femininos, em vez de negar sua existência.
* Hans (4 anos e 9 meses) despertou em lágrimas pensando a mãe tinha ido embora e ele ficava sem a Mamãe para mimarem juntos.
* A curiosidade de Hans orientava-se em particular para seus pais e o fato do pai lhe desabotoar a roupa para fazer pipi, gerava fixação de inclinações homossexuais na figura paterna.
* Hans foi advertido pela mãe para não colocar a mão no pipi dele, mesmo assim o fez.
* Hans quis dormir com a filha do senhorio de 13 anos, chamada Mariedl;
* Hans viu uma linda menina, com cerca de 8 anos, num restaurante e se apaixonou por ela na mesma hora; tão excitado que pela primeira vez não conseguiu dormir de tarde e ficou se revirando na cama, inquieto, perguntando a Mariedl, de 14 anos, se a garota seria boa para ele e se ela iria beijá-lo.
* Hans se comportava como um adulto apaixonado;
* Ele teve uma nova empregada (Berta), que agradou muito a ele, que montava em suas costas e a chamava de “meu cavalo”. Ele disse à nova babá: “Se você fizer tal e tal coisa, você terá que se despir toda, e tirar até a camisa.” (Para ele isso era um castigo, mas é fácil identificar, por trás disso, o desejo.)
* Hans sonhou que (Berta ou Olga) lhe obrigava a fazer pipi, ajudando-o a urinar, desabotoando a calça e expondo seu pênis, que para Hans foi um processo prazeroso.

4) QUESTIONAMENTOS DE HIPÓTESES DIAGNÓSTICAS DE FREUD:
A) GERAIS  E INTRODUTÓRIOS EM RELAÇÃO AO MEDO:
* De onde terão provindo os elementos para a fobia de Hans?
* Será que ele viu um exibicionista em alguma parte?
* Ou tudo isso está simplesmente relacionado com sua mãe?
* Quem está para dormir se incomoda com ruas e passeios?
* O medo está relacionado com ele assustar-se com um grande pênis?
B) MAIS ESPECÍFICOS EM RELAÇÃO À SUSPEITA DE EXCITAÇÃO:
* Qual será a causa real da excitação?
* Que parte disto constituía o sintoma? Era ele ter medo?
* Era sua escolha de um objeto para seu temor?
* Era ter ele abandonado sua liberdade de movimento?
* Ou era mais de um desses fatores combinados?
* Qual foi a satisfação a que ele renunciou?
* E por que teve de renunciar a ela?
C) MAIS APROFUNDADOS CONCERNENTE À SUA MÃE:
* O começo da ansiedade e da fobia de Hans, se iniciou com a proibição de não poder segurar seus pênis?
* Existe alguma coisa a reter a libido sob repressão? Essa repressão seria conseqüência da intensidade das emoções da criança, que ficara acima da sua capacidade de controle ou outras forças ainda não identificadas?
* Quem complexos desconhecidos contribuíram para a repressão e mantinham sob repressão os sentimentos libidinais de Hans para com sua mãe?
* Se o cavalo fosse puramente um substituto de sua mãe, qual seria o significado do fato de ele ficar com medo, à noite, de que um cavalo entrasse no quarto?
* A ameaça de castração produzisse um efeitoadiado, de ordens e ameaças feitas na infância, desempenhou um papel preponderante na determinação dos sintomas da doença?
* Se a súbita transmutação da sua excitação em ansiedade teve lugar espontaneamente, ou como resultado da rejeição de sua mãe aos seus avanços, ou devido ao renascimento acidental das impressões anteriores pela causa precipitadora da sua doença - não podemos decidir?
Afinal, Hans tinha ou não tinha, neurose?

5) CRITÉRIOS METODOLÓGICOS USADOS POR FREUD, NO CASO DO PEQUENO HANS:
* Apontamentos foram feitos sobre o material de que dispunha.
* Elementos dispostos começaram a ser examinados, não visando compreender um caso logo à primeira vista, mas num estágio posterior, quando forem recebidas bastantes impressões, deixando em suspenso o julgamento, tendo atenção imparcial a tudo quanto houver para observar, visando preencher as lacunas, pelas experiências nas análises de pessoas adultas; no desejo de que a intervenção não seja considerada arbitrária ou caprichosa.
Não fazer perguntas demais a Hans, não pressionar o inquérito através de das próprias linhas, mas permitir ao garotinho expressar seus pensamentos para a análise não ficar obscura e incerta.


6) EVOLUÇÃO DA ANÁLISE DO CASO DO PEQUENO HANS:
a) No começo do tratamento se supõs que odistúrbio teve início com pensamentos apreensivos e ternos, seguindo-se então um sonho de ansiedade cujo conteúdo era a perda de sua mãe e, com isso, não poder mais ‘mimar’ junto com ela. Por conseguinte, sua afeição pela mãe deve ter-se tornado fortemente intensa.

b) Se supõs que o medo fosse resultado de um objeto de substituição do afeto da não realização do desejo - A rua não é bem o lugar correto para ‘mimar’, ou o que quer que esse jovem apaixonado pudesse ter desejado fazer. A sua ansiedade precisava encontrar um objeto e por isso expressou o medo de que um cavalo o mordesse. Hans gostava muito de sua mãe e que queria que ela o levasse para sua cama. A razão por que ele tinha então medo de cavalos se explicava por ele se haver interessado muito pelos seus pipis. Hans tinha medo de animais grandes, porque se via obrigado a pensar nos seus grandes pipis; contudo, não se pode, na verdade, dizer que ele estava com medo dos próprios pipis deles.
Hans constantemente vinha fazendo comparações, e ficara extremamente insatisfeito com o tamanho do seu pipi. Hans deslocou seus sentimentos para os animais e assim,os animais grandes lembravam-no desse seu defeito, e por isso lhe eram desagradáveis.

c) Se supõs que o aumento da afeição de Hans por sua mãe subitamente se transformou em ansiedade, sucumbiu à repressão. Na rua sentia falta de sua mãe com quem queria ‘mimar’, e que não queria estar longe dela, por isso aversão às ruas. Teve duas tentativas de seduzir sua mãe, datando a primeira delas do verão, ao passo que a segunda (um simples elogio feito ao seu próprio pênis) ocorreu no momento imediato que precedeu a irrupção da ansiedade na rua.

d) Se supõs que que a ansiedade de Hans era uma ânsia erótica reprimida, que como toda ansiedade infantil, não tinha um objeto com que dar saída: ainda era ansiedade, e não medo, A libido de Hans estava relacionada com um desejo de ver o pipi de sua mãe. Sendo, portanto, ansiedade mesclada com nítidos traços de ternura. Esses estados mostram que no início de sua doença não havia, até então, fobia alguma, quer com relação às ruas ou a passear, quer com relação a cavalos.

e) Se supõs que que à hora de dormir certa intensificação da libido apossava-se de Hans, pois o objeto desta era sua mãe, e seu objetivo talvez tenha sido dormir com ela. Hans aprendeu, por sua experiência, que sua mãe poderia ser persuadida a levá-lo para a cama dela toda vez que ele apresentava tais disposições.

f) Se supõs que uma alternância libidinal de Hans que quando as afeições de Hans não estavam divididas entre alguns companheiros de folguedos e amigos de ambos os sexos, sua libido estava em condições de voltar-se para sua mãe, sem dividir-se. Uma constituição sexual como a do pequeno Hans não parece encerrar uma predisposição para o desenvolvimento nem de perversões, nem de histeria. O pequeno Hans, que mostrou sua afeição por menininhos e menininhas indiscriminadamente e ele achava que todo mundo tinha pênis.

g) Se supõs que que a ansiedade de Hans correspondia a um forte anseio reprimido que poderia transformar-se completamente em satisfação se o objeto ansiado lhe fosse concedido; por isso Hans extraia de si mesmo prazer, masturbando-se; apesar de que a masturbação não explicava a continuidade da ansiedade de Hans. Seu medo de cavalos foi-se transmudando gradativamente em uma compulsão para olhá-los; sua fobia aumentou novamente, a tal ponto que não se conseguia levá-lo para sair e Hans dizia que um cavalo branco iria mordê-lo. Se você apontar o dedo para ele, ele morde; era unânime que a principal participação na patogênese da atual condição de Hans envolvia  seu hábito de masturbar-se.

h) Se supôs que Hans tivesse uma raiva dirigida à mãe por causa da gravidez – No caso das carroças pesadas, os ‘objetos pesados’ provavelmente simbolizavam a própria mãe, contra quem a raiva da criança era dirigida, uma vez que o novo bebê ainda não havia surgido. O menino de 3 anos e 1/2 sabia da gravidez da mãe, e não tinha dúvidas de que ela tinha o bebê no corpo, por isso seu particular temor de carros com muita carga. O bebê é considerado com ‘lumf‘ , como algo que se separa do corpo passando através dos intestinos. Uma certa quantidade de catexia libidinal, que originalmente se ligava ao conteúdo dos intestinos, pode assim estender-se ao bebê nascido através deles, como um desafio (obstinação) que nasce de um apego narcísico ao erotismo anal.

i) Freud sugeriu que o pai começasse a dar a Hans alguns esclarecimentos dentro do tema do conhecimento sexual, informando-o de que sua mãe e todos os outros seres femininos não tinham pipi nenhum, esclarecimento lhe seria dado numa ocasião favorável, quando o assunto fosse motivado por alguma pergunta ou alguma observação casual de Hans. Freud insistiu na imprecisão do termo “sugestão” e reprovou a aplicação da expressão ‘complexo de castração’ às outras espécies de separação que a criança deve inevitavelmente experimentar; podemos ver um primeiro indício do conceito de ansiedade devido à separação, cuja ênfase dada se refere ao perigo de perder o amor ao objeto amado,vatravés da histeria de angústia causada pela  curiosidade infantil sobre o sexo, onde Ele chegou a mencionar a existência de ’teorias sexuais infantis’.

j) Se supõs que que a curiosidade de Hans sobre o pipi feminino o orientou a um novo objeto e a um período de repressão ocultada sob um propósito moralizador com fantasia masturbatória, equivalente a um sonho, com a intenção evidente de autojustificar-se de que a mãe mostra o seu pipi e ele também podia mostrar o seu, de onde se extrai que a reprimenda da mãe produziu nele um resultado intenso e, em segundo, o esclarecimento feito quanto ao fato de as mulheres não possuírem pipi não foi, a princípio, aceito por ele, mas o desagradou e sua fantasia ateve-se à convicção anterior, sendo propenso a recusar-se a acreditar em seu pai naquele momento sobre o fato das mulheres não terem pipi.

k) Se supõs que que a ansiedade outrora prazerosa de ver o pipi das mulheres, persistiu diante do desprazer de saber que elas não tinham pipio prazer de Hans ficou prejudicado, devido à inversão global do prazer em desprazer que havia tomado conta de todas as suas pesquisas sexuais. O sentimento aflitivo foi transformado em ansiedade, de modo que sua ansiedade atual se estabeleceu tanto em seu prazer anterior quanto em seu atual desprazer. Quando o estado de ansiedade se estabelece, a ansiedade absorve todos os outros sentimentos; com o progresso da repressão, e com a passagem ao inconsciente de boa parte das outras idéias que são carregadas de afeto e que foram conscientes, todos os afetos podem ser transformados em ansiedade.

l) O pai de Hans supôs a existência de fantasia de desafio de Hans relacionada com a satisfação de Hans pelo triunfo alcançado sobre a resistência de seu pai, no sonho das girafas e da cerca que Hans teve. Hans sonhou com 2 girafas, e queria um revólver para matar as pessoas; o pai de Hans descobriu a solução da fantasia da girafa grande que era ele mesmo, ou melhor, o meu pênis grande (o pescoço comprido), e a girafa amarrotada é sua esposa, ou melhor, seu órgão genital. À noite, Hans fora arrebatado por uma ânsia de ter sua mãe, suas carícias, seu órgão genital, e por essa razão foi ao quarto do casal. No sonho de Hans, o “sentar-se em cima de” era a imagem que Hans tinha de tomar posse. Por trás da fantasia de Hans, havia um medo de que sua mãe não gostasse dele, de uma vez que seu pipi não se comparava com o de seu pai! No caso do sonho do trem, quando quebravam uma janela e o policial os levava embora, era sonho continuado da fantasia da girafa. Hans suspeitava que tomar posse de sua mãe era um ato proibido e se defrontava com a barreira contra o incesto. Hans pensava que seu pai também fazia o proibido e enigmático com a sua mãe, que ele substituía por um ato de violência tal como quebrar uma vidraça ou forçar a entrada num espaço fechado. Outro elemento foi o desejo reprimido de Hans de ficar nu.

m) Freud supôs um novo elemento para a solução – a repressão - um elemento que ele podia compreender que provavelmente escapou ao pai de Hans - ele tinha medo de seu pai, exatamente porque gostava muito de sua mãe.
A expressão da hostilidade do menino para com o pai, talvez, fosse manifestação da necessidade de ser punido por causa do desejo para com a mãe o qual Hans considerava proibido. Hans chamava atenção para o fato de que seu amor por seu pai entrava em conflito com sua hostilidade para com ele, considerando-o como um rival junto de sua mãe; e censurava seu pai por não haver ainda chamado sua atenção para esse jogo de forças, fadado a culminar em ansiedade. Seu pai até então não o entendia por completo, de vez que, durante esse diálogo, conseguiu convencer-se apenas da hostilidade que o menino lhe tinha.

n) O pai de Hans supôs a existência de ansiedade e medo gerados pela hostilidade de Hans ao ele - Por gostar de sua mãe, é evidente que desejava afastar o pai, e assim ficaria no lugar de seu pai,mas esse desejo hostil suprimido transformou-se em ansiedade porseu pai, ansioso de perdê-lo. A ansiedade de Hans envolvia medo de seu pai e medo por seu pai. O primeiro derivava de sua hostilidade para com seu pai, e o outro derivava do conflito entre sua afeição, exagerada a esse ponto por um mecanismo de compensação, e sua hostilidade. O motivo pelo qual Hans mal se arriscava a sair de casa ou o ataque de ansiedade no meio do caminho era o medo de não encontrar seus pais em casa porque eles foram embora. Hans se prendia à casa por amor de sua mãe e ficava com medo do pai ir embora, em virtude dos desejos hostis que ele, querendo ser o pai. No caso da brincadeira de Hans com as carroças carregadas, houve uma relação de um substituto simbólico para outro desejo, que seria o desejo de morte do pai. Ocorreu quando o menino viu cair um cavalo grande e pesado; e pelo menos uma das interpretações dessa impressão parece ser um desejo de que seu pai caísse daquele mesmo modo… e morresse. Freud não conseguia convencer-se da existência de um instinto agressivo especial, ao lado dos instintos familiares de autopreservação e sexo, e em pé de igualdade com. A relutância em aceitar um instinto agressivo independente da libido foi auxiliada pela hipótese do narcisismo.
Os impulsos de agressividade, e de ódio também, desde o início pareceram pertencer ao instinto autopreservativo, e, visto que este se achava agora incluído na libido, não se exigia qualquer instinto agressivo independente. E assim era a despeito da bipolaridade das relações objetais, das freqüentes misturas de amor e ódio, e da complexa origem do próprio ódio. Foi somente após a hipótese formulada por Freud de um ‘instinto de morte’ que o instinto agressivo verdadeiramente foi explicado.

o) Se supõs que um novo elemento na vida de Hans – que ele tenha detectado claramente a diferença entre os sons feitos por um homem urinando e por uma mulher. As idéias da fertilização pela boca, do nascimento pelo ânus, das relações sexuais dos pais como algo sádico e da posse de um pênis por membros de ambos os sexos envolvem implicações mais extensas, como a importância do pênis para as crianças dos dois sexos, os resultados da descoberta de que um dos sexos não o possui, o aparecimento na menina da ‘inveja do pênis’ e nos meninos do conceito da ‘mulher com um pênis’, e o papel desse conceito numa forma de homossexualidade. O interesse intelectual da criança pelos enigmas do sexo, o seu desejo de conhecimento sexual, revela-se numa idade surpreendentemente tenra.

p) Se supôs no caso das calcinhas pretas e no sonho do bombeiro, que as náuseas de Hans sobre a broca no estômago se relacionassem ao fato dele ter visto algo preto em sua mãe que o assustou como o cabelo preto perto do pipi dela, quando ele estava curioso e olhou. O pai de Hans traduziu a fantasia do modo de que Hans estava na cama com a mãe e o papai o tirou de lá, como que o seu grande pênis o tivesse empurrado para fora e o medo da banheira grande envolveria ter sido levado para fora, como que se não fosse mais amado.

q) O pai de Hans supôs o desejo sádico obscuro de Hans por sua mãe e de um claro impulso de vingança contra ele, quando do nascimento da irmã de Hans, hanna - Hans sentiu uma forte aversão pelo bebê recém-nascido, que lhe roubou uma parte do amor de seus pais, e a tinha como excremento, desejando bater em sua mãe, num acesso de sadismo transferido para o desejo de “importunar” um cavalo por causa do seu complexo durante a gravidez da sua mãe.
No processo da formação de uma fobia pelos pensamentos inconscientes que a fundamentam, tem lugar a condensação; e por essa razão o curso da análise nunca pode seguir o do desenvolvimento da neurose.

r) Freud supôs que como os pais de Hans ainda hesitavam em dar-lhe a informação que já estava, a essa altura, muito atrasada, ele usou de um ato sintomático, no caso do uso do canivete na boneca Grete para dizer como imaginava o nascimento através das pernas da boneca e de seu pipi. Hans deu uma expressão combinada do seu descontentamento, da sua desconfiança e do seu conhecimento superior, numa encantadora zombaria ao seu pai, que culminou, com suas últimas palavras, numa alusão inconfundível ao nascimento de sua irmã. Enquanto a criança estiver na ignorância quanto às partes genitais femininas, haverá naturalmente uma lacuna vital na sua compreensão dos assuntos sexuais.
A alegria de Hans com a sua fantasia foi atrapalhada tanto pela sua incerteza quanto ao papel desempenhado pelos pais como pelas suas dúvidas quanto à concepção das crianças estar sob seu controle.

s) Se supôs uma conclusão satisfatória com o Complexo de Édipo - Hans tem tido constantemente fantasias sobre “seus filhos” e brincava com seus filhos imaginários e o pai pontuou sobre o fato de um menino não poder ter filhos, mas Hans disse que antes era a mamãe deles, agora era o papai deles e que a mãe seria a mãe dele e que o pai seria o avô delas. Em vez de colocar seu pai fora do caminho, Hans concedeu-lhe a mesma felicidade que ele mesmo desejava: fez dele um avô e casou-o com a sua própria mãe também. Na outra fantasia sobre o bombeiro envolvendo a pinça, ainda persiste um traço do distúrbio, mesmo que não mais sob a forma de medo, mas só sob a do instinto normal de fazer perguntas.
Um resíduo não resolvido permanece por trás, pois Hans ainda quebra a cabeça para descobrir o que um pai tem a ver com seu filho, já que é a mãe que o traz ao mundo. Isso pode ser visto pelas suas perguntas, como, por exemplo: “Eu pertenço a você também, não pertenço?” (querendo dizer não só à sua mãe). Não está claro para ele de que maneira ele pertence a mim.
Freud não tem nenhuma evidência direta de Hans por acaso ter ouvido, os pais tendo relações sexuais.

t) Últimas considerações sobre o caso do Pequeno Hans - Com a última fantasia de Hans, a ansiedade que foi provocada pelo seu complexo de castração também foi superada, e suas dolorosas expectativas receberam uma transformação mais feliz.Termos relacionados ao caso Hans:
* Fobia histérica infantil de animais (agorafobia);
* Doença neurótica de substituição ou estado de ansiedade neurótico;
* Impulso reprimido com sintoma substitutivo;
* Repressão envolvendo conflito ambivalente de amor e ódio;
* Deslocamento ou sintoma com traços inatos do pensamento totêmico;
* Afeto de ansiedade de Hans originado pelo medo da castração;
* Atividade sexual auto-erótica, com o prazer associado ao contato cutâneo;
* Sadismo suprimido
* Histeria de angústia convertida envolvendo anseio e apreensão;
* Anseio libidinal transformado em ansiedade;
* Distorção e de substituição dos componentes instintuais;

u) Considerações de Freud sobre o fato de que o pai de Hans analisara o próprio filho - uma análise de uma criança conduzida por seu pai, que foi instilado ao trabalho com meus pontos de vista teóricos e infectado com meus preconceitos, deve ser inteiramente desprovida de qualquer valor objetivo.
Freud não avisou ao pai de Hans que o menino seria impelido a aproximar-se do tema do parto por meio do complexo excretório. Essa negligência levou a uma fase obscura na análise, mas produziu legitimidade e independência nos processos mentais de Hans quanto à `sugestão’.
Durante a análise teve que ser contada a Hans muita coisa que ele mesmo não podia dizer, ele teve de ser apresentado a pensamentos que até então ele não tinha mostrado sinais de possuir, e sua atenção teve de ser voltada para a direção da qual seu pai estava esperando que surgisse algo. Isso diminui o valor de evidência da análise, mas o processo é o mesmo em todos os casos.
Uma criança, dirão, é necessariamente muito sugestionável, e muito mais por seu próprio pai do que talvez por qualquer outra pessoa; ela permitirá que qualquer coisa lhe seja forçada, por causa da gratidão a seu pai por lhe dar tanta atenção; nenhuma das suas afirmações pode ter qualquer valor de evidência, e tudo o que ela produz sob a forma de associações, fantasias e sonhos tomará, naturalmente, a direção para a qual está sendo pressionada por todos os meios possíveis.
Se fôssemos rejeitar a raiz e os ramos das declarações do pequeno Hans certamente deveríamos estar-lhe fazendo uma grave injustiça. Ao contrário, podemos distinguir claramente as ocasiões em que ele estava falsificando os fatos ou guardando-os sob a força compelidora de uma resistência, as ocasiões em que, estando indeciso, concordava com seu pai (de modo que aquilo que ele dissesse não fosse tomado como evidência), e as ocasiões em que, livre de qualquer pressão, ele explodia numa torrente de informação sobre o que estava realmente acontecendo dentro dele e sobre coisas que até então ninguém sabia, a não ser ele.

v) Situação de Hans após o final do tratamento em fase posterior:
Hans era bem formado fisicamente, um rapazinho alegre, amável e de mente ativa, com precocidade sexual, sem má consciência ou medo de punição.
Freud viu Hans cerca de dois anos depois do fim da análise e depois não teve notícias dele por mais de dez anos.
O pequeno Hans era agora um forte rapaz de dezenove anos.
Declarou que estava perfeitamente bem e que não sofria de nenhum problema ou inibição.
Não só tinha atravessado sua puberdade sem nenhum dano, como também sua vida emocional tinha sofrido sucessivamente uma das mais severas provas.
Seus pais se tinham divorciado e cada um deles se casara de novo. Em conseqüência disso ele vivia sozinho; mas estava em bons termos com seus pais, e só lamentava que, como resultado da divisão da família, ele tivesse sido separado de sua irmã mais moça, de quem tanto gostava. Quando leu seu caso clínico, disse a Freud, que tudo aquilo veio a ele como algo desconhecido; ele não se reconheceu; não se lembrava de nada; e só quando chegou à viagem a Gmunden despontou nele uma espécie de trêmula lembrança de que poderia ter sido a ele que aquilo tinha acontecido. No seu desenvolvimento subseqüente, Hans não tendenciou para a homossexualidade, mas para uma masculinidade enérgica, com traços de poligamia A análise não tinha preservado os acontecimentos da amnésia, mas tinha sido superada pela própria amnésia.

7) CONCLUSÕES DO CONTEÚDO PSICANALÍTICO DO CASO DO PEQUENO HANS:
Segundo Freud, Hans é descrito por seus pais como uma criança alegre, franca, e assim ele deve ter sido, considerando-se a educação dada por seus pais, que consistia essencialmente na omissão dos nossos costumeiros pecados educacionais. Foi com a eclosão da doença e durante a análise que começaram a aparecer as discrepâncias entre o que ele dizia e o que ele pensava; isso acontecia em parte porque o material inconsciente, que ele era incapaz de controlar, de repente se estava forçando sobre ele, e em parte porque o conteúdo de seus pensamentos provocava reservas em relação às suas relações com seus pais.
Freud considerava Hans, como um encantador menino de 4 anos, filho de pais compreensivos que se abstiveram de reprimir uma parte de seu desenvolvimento, aonde Hans não foi exposto a nada da natureza de uma sedução pela babá, mas, apesar disso, já há algum tempo demonstrava um vivo interesse por aquela parte do seu corpo que ele chama de ‘pipi’.
Para Freud, o pequeno Hans não era uma criança sensual, nem com disposição patológica, não tinha uma predisposição para a neurose, e nem se tornou um jovem “degenerado”; como Hans não tinha sofrido intimidações e não tinha sido oprimido por nenhum sentimento de culpa, se expressava naquilo que pensava.
Na verdade, para Freud, a mãe de Hans ficara doente com uma neurose como resultado de um conflito durante a meninice de Hans. Freud queria servir auxílio para ela na época, e este foi, de fato, o começo da sua ligação com os pais de Hans.

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